Carmen da Silva, uma rio-grandina precursora do feminismo brasileiro.

Álbum de figurinhas destaca Carmen e outras mulheres rio-grandinas
31 de agosto de 2022
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Álbum de figurinhas destaca Carmen e outras mulheres rio-grandinas

Após ser reconhecida em sua terra natal com o nome de um Largo, nas imediações do Coreto da Praça Tamandaré, Carmen da Silva foi novamente homenageada pela sua cidade em um álbum de figurinhas lançado no dia 25/08 no município. Intitulado Figurinhas do Rio Grande, o material contém 90 cromos, distribuídos em 14 temas relacionados à cidade mais antiga do estado.

O lançamento oficial ocorreu na Nova Rheingantz e contou com a presença de familiares e amigos das personalidades homenageadas, pesquisadoras, pesquisadores e de autoridades locais. A iniciativa é da Prefeitura Municipal do Rio Grande, através da Secretaria de Educação e Cultura, com a execução da Associação Otroporto, Indústria Criativa, de Pelotas.

O trabalho desenvolvido na Universidade Federal do Rio Grande (FURG), com pesquisas e o desenvolvimento de projetos de divulgação da obra e preservação da memória de Carmen da Silva resultou em um convite para a Profa. Dra. Nubia Hanciau integrar a proposta como conselheira editorial, na companhia do advogado Arthur Rocha Baptista, do oceanólogo Lauro Barcellos e do professor e revisor João Reguffe.

“Com muita alegria aceitei o convite para participar da competente equipe organizadora. Isto porque já conhecia o projeto e o sucesso das Figurinhas de Pelotas. Viver essa experiência, depois de meio século de vida rio-grandina e dois de isolamento, provou que nossas descobertas nunca se esgotam, além de fornecer uma rica oportunidade de me reaproximar da minha cidade de eleição e colocar em foco seus principais atrativos”, salientou a professora.

Segundo ela, o exemplo exitoso da cidade vizinha despertou o interesse local e, através do diálogo com a equipe que desenvolveu o projeto em Pelotas, a Secretaria de Educação e Cultura de Rio Grande montou um projeto pedagógico próprio, que atenderá 54 escolas com a distribuição gratuita do álbum para cerca de dois mil alunos da Rede Municipal de Ensino.

“A entrega do álbum possibilitará aos estudantes um olhar sob diversos ângulos e em várias direções – passado, presente e futuro – com o apoio de textos e imagens que evocam a memória e a história da comunidade rio-grandina. O álbum oferece um panorama geral da cidade, um primeiro mostruário de nossa história, tanto do ponto de vista histórico quanto patrimonial e ambiental.”, acrescentou.

Nubia teve atuação importante na defesa da história e da memória de mulheres rio-grandinas ao logo da sua trajetória acadêmica e contribuiu decisivamente para a inclusão de Carmen da Silva e Lyuba Duprat no álbum de figurinhas. “A inserção das duas figuras femininas, Carmen da Silva e Lyuba Duprat entre os destaques deve-se ao dever de memória, que implica a necessidade de trazer ao presente personagens que corresponderam aos ideais que as mulheres aspiravam, sobretudo em uma cidade interiorana, onde lhes eram impostos muitos desafios”, destacou.

A professora conclui com uma referência à capa do álbum, ilustrada por uma belíssima fotografia de João Paulo Ceglinski, a cidade do Rio Grande vista do alto. Diz a passagem: “Inicialmente destinado aos alunos da rede pública municipal de ensino – aqueles que estudam especificamente o município – [desejamos] que este trabalho rompa a fronteira das escolas e reúna famílias, amigos, moradores e turistas ao redor desta cidade tão linda. E se, ao passarem pelas ruas de nossa cidade, tiverem um olhar carinhoso para uma praça, uma paisagem, um prédio, nosso trabalho terá valido a pena”.

Veja, abaixo, um breve perfil de Carmen e Lyuba construído pela Professora Dra. Nubia Hanciau:

 Lyuba Duprat (1900-1994)

Cronologicamente Lyuba em primeiro lugar, nascida em 1900, professora de francês e de história da arte, que viveu do seu trabalho por mais de setenta anos, até 1994. Sua casa foi um espaço de cultura, que não teríamos condições de frequentar em nenhum outro lugar na cidade. A FURG, um ano depois de sua morte, acolheu nossa proposta e inaugurou em sua homenagem a “Salle de Documentation Lyuba Duprat”, onde estão abrigados, desde 1995, documentos, livros raros, manuscritos, fotografias e cartas de seu pai, o renomado médico Augusto Duprat. A “Salle”, local de preservação da memória de sua homenageada, está aberta aos alunos da Instituição, à comunidade rio-grandina e a todos que buscam conhecer e aprofundar o saber na língua e cultura francesas.

 Carmen da Silva (1919-1985)

Carmen da Silva, rio-grandina como Lyuba, nasceu em 31 de dezembro de 1919, centenária nos cinquenta anos da FURG. Filha de Celina Daniel da Silva e Pio Ângelo da Silva, conhecido médico na cidade, formou-se professora primária no Colégio Santa Joana D’Arc, dirigido por freiras francesas. Nos anos 1940 publicou alguns artigos em jornais locais, mas somente vinte anos mais tarde é que se tornou uma das mais notáveis feministas brasileiras do século XX. Residiu no Brasil até os 23 anos, foi viver e trabalhar no Uruguai, depois na Argentina. Foi no início da década de 1960, quando voltou ao Brasil e radicou-se no Rio de Janeiro, que Carmen consolidou seu talento de escritora e jornalista ao aproximar-se do público feminino com o qual manteve diálogo intenso até o fim da vida por meio da coluna “A arte de ser mulher”, publicada mensalmente na revista Claudia. O teor precursor de seus textos contribuiu não apenas para desenvolver a crítica e a divulgação do movimento feminista brasileiro, mas também para a formação do pensamento de várias gerações de brasileiras, a minha inclusive.