Carmen da Silva, uma rio-grandina precursora do feminismo brasileiro.

Apresentação

Carmen da Silva
Carmen da Silva

Carmen da Silva nasceu em Rio Grande em 31 de dezembro de 1919 e faleceu no Rio de Janeiro em abril de 1985. Foi uma das mais notáveis feministas brasileiras do século XX. Residiu no Brasil até os 23 anos, quando foi viver no Uruguai, e, seis anos mais tarde, na Argentina. Em Buenos Aires, em meio às turbulências políticas do governo Juan Domingo Perón, publicou seu primeiro romance a respeito desse período, intitulado Setiembre, lançado em 1957 pela editora Goyanarte. Esta obra foi premiada na categoria romance pela Sociedade Argentina de Escritores (SADE), juntamente com El Acoso, de autoria do cubano Alejo Carpentier.

Carmen da Silva viveu no meio cultural argentino até o início da década de sessenta, quando voltou ao Brasil e radicou-se no Rio de Janeiro, consolidando na capital carioca seu talento como escritora e jornalista ao aproximar-se do público feminino com o qual manteve diálogo intenso até o fim da vida por meio da coluna “A arte de ser mulher” da revista Claudia. O teor precursor de seus textos – que discutem a questão da mulher e desenvolvem a crítica e a divulgação do movimento feminista brasileiro, suas principais bandeiras de luta –, e, em razão de sua publicação acontecer em tempo de deflagração dos principais movimentos feministas internacionais, notadamente o MLF (Mouvement pour la libération des femmes), na França, e o Women’s Lib, nos Estados Unidos, o êxito que obtiveram no momento crucial de “excesso” social e político do Brasil dos anos sessenta, são fatores que contribuem para situar Carmen da Silva entre as mais proeminentes precursoras desse movimento. Ela situa-se entre as poucas vozes a apresentar corajosamente um terceiro caminho, um veio para a contestação, destacando-se na liderança do que caracterizaria a “terceira onda” do feminismo, que repercute no Brasil os movimentos que ocorriam na Europa e na América do Norte.

Como ela própria declara em seu último livro, Histórias híbridas de uma senhora de respeito(1984): seus artigos “caíram como UFOs incandescentes no marasmo em que dormitava a mulher brasileira naquela época”.

Sempre presente nas manifestações públicas em defesa dos direitos da mulher, em 1984 Carmen da Silva, "a Carmenzinha do Rio Grande", como afetivamente era chamada, saiu às ruas para participar da passeata em 8 de março, fantasiada de Estátua da Liberdade, expressão máxima de suas convicções, carregando em uma das mãos uma tocha, na outra uma tábua de cortar carne (foto publicada na capa dos jornais JB Globo). No ano seguinte, em 25 de abril, durante conferência sobre jornalismo e feminismo realizada no auditório do SENAC, em Resende, Rio de Janeiro, ela sentiu-se mal; ao ver o seu ventre crescer, brincalhona, exclama: “Fiquei grávida nesta idade!” Mas em verdade, fora vítima de um aneurisma abdominal fulminante, vindo a falecer alguns dias depois em um hospital de Volta Redonda. Carmem da Silva foi sepultada no Rio de Janeiro em 29 de abril de 1985.